Revolução e cultura analítica, por Luís Moniz

Joao GeraldesNotícias Leave a Comment

Não é o conhecimento operacional dos algoritmos genéticos, de árvores de decisão, de regressões ou de redes neuronais, que é necessário. É a capacidade de perceber as possibilidades e os limites.

Se retirarmos o lado de espectáculo, social, mediático e de networking, o Web Summit comprovou aquilo que sabemos há muito: a revolução analítica. Para oradores, empresas, start-ups, os termos inteligência artificial, “machine learning”, big data, algoritmos, foram incontornáveis.

Para muitos os dados tornaram-se o combustível das decisões, e a componente analítica, a fórmula mágica para crescer e lucrar. Um sonho em que muitos incorrem, mas com risco de acordarem num pesadelo. Sem dúvida de que os dados e a capacidade de analisá-los são um factor diferenciador. Uma constatação milenar. O pesadelo surge quando consideramos que a analítica é o fim e não um meio. Para muitos, basta ter cientistas de dados e tecnologia para terem o problema resolvido. É a armadilha em rede, não mata, mas limita. Não é apenas ter as pessoas e a tecnologia, temos de saber o que queremos. Qual a nossa estratégia? Que mercados queremos conquistar? Qual a previsão de vendas? Que experiências a clientes posso ter para aumentar a lealdade sem aumentar o investimento? Que cenários? Quando soubermos efectuar as perguntas, a analítica passa a ser um meio com todos os benefícios.

O obstáculo maior nesta visão é a adopção da analítica nas empresas apenas por cientistas de dados e de “geeks”. É a criação de novos silos. São excelentes a resolver problemas e a responderem a perguntas. O problema é que o conhecimento da actividade e da estratégia da empresa é fundamental para elaborar as perguntas e a prioridade dos problemas a serem resolvidos. É uma questão de gestão e sabedoria. De integração e de envolvimento. De partilha e complementaridade.

Mais do que a falta de “data scientists”, o maior perigo está nos decisores que não têm cultura analítica ou pior aqueles que pensam que a têm. Não é o conhecimento operacional dos algoritmos genéticos, de árvores de decisão, de regressões ou de redes neuronais, que é necessário. É a capacidade de perceber as possibilidades e os limites. De identificar as perguntas e os problemas. De ter visão holística e específica. De ter cultura, no sentido de ter informação, ser criativo e ser humanista.

Nota: o autor não aderiu por vontade própria ao convencionalismo do recente acordo ortográfico.

Responsável de Marketing no SAS Portugal 

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